domingo, 19 de outubro de 2008

Eles brincam de Banco Imobiliário e nós pagamos a conta

Estamos na era da transparência, da comunicação da sustentabilidade. Diz um amigo meu que o canal mais avançado, ou evoluído, ou desenvolvido de comunicação com stakeholders é o da relação com acionistas, com investidores. 

Será? Será que os acionistas da Aracruz e da Sadia concordam? E todas essas empresas estão no ISE, o Índice de Sutentabilidade Empresarial da Bovespa !! Como diria o Silvio Luiz, o que é que o ISE vai dizer lá em casa! E os 2 bilhões perdidos pela Votorantim? Como é que a diretoria financeira de empresas daquele tamanho, e de capital aberto, arriscam os ativos da empresa em operações financeiras obscuras? Se o Conselho sabia, os acionistas, não. 

Transparência, assim, nem lá em Tucuruvi.

E mais. Eu até hoje não entendo o mercado financeiro, não sei o que é derivativo e tenho apenas uma vaga idéia do que sejam hedge funds. Mas, pelo que li, estou tentando entender como o mercado financeiro pode simplesmente evaporar mediante o calote de tomadores de empréstimos imobiliários.

Pelo que entendi, não é apenas o fato de que o manezinho americano -- o johnnyzinho, portanto -- não conseguiu pagar o empréstimo porque os juros começaram a subir. Se fosse só isso, o johnnyzinho devolveria a casa pro banco, mais ou menos como acontece aqui, e isso talvez depreciasse o preço dos imóveis a níveis aceitáveis.

Mas, parece que esse crédito, digamos essa promissória, esse papagaio, era passado adiante para outro banco, e valendo mais. Esse outro banco passava ainda adiante, valendo mais um pouquinho. O quarto banco achava -- ou fingia que achava -- que tinha um papagaio de 200 mil dólares na mão, quando o valor original era, sei lá, 50 mil. Só que esses supostos 200 mil dólares já estavam garantindo sei lá o quê de 300 mil, ou o dono disso acreditava que tinha essa quantia de dinheiro na mão.

Quando o johnnyzinho não pagou, o papel voltou ladeira abaixo, valendo menos que os 50 mil original. Foi esse o mecanismo da evaporação da riqueza do mercado? Porque, se for, gostei da brincadeira. Os caras estavam jogando Banco Imobiliário, ou seja, comprando e vendendo casinhas, terrenos, empresas, investindo em ações etc com dinheiro de mentira. 

Aí, penso: como alguém pode perder o que não tinha? Sim, porque esses trilhões que a imprensa diz que evaporaram eram papéis que todo mundo sabia que não tinham lastro. Papeizinhos tão verdadeiros quanto o dinheiro do Banco Imobiliário -- que só tem valor enquanto dura a brincadeira...

E, apesar das tentativas dos bancos centrais nos EUA e alguns países da Europa de socorrer o mercado, o mercado se finge de morto. Não ressucita. Tudo o que a imprensa diz é que "falta confiança". Confiança de quem em quê?

Não sei. Ninguém diz. Só sei que, semana passada, o Jornal Hoje passou uma matéria da Sonia Bridi, em Paris. Ela entrevistou não sei que economista e o cara disse o seguinte: os grandes bancos não estão emprestando aos pequenos porque estão esperando que eles quebrem, para comprá-los a preço de banana. Isso não passou no Jornal Nacional.

Falta de confiança do "mercado" no próprio "mercado", porque sabe que lá tem mais coisas podres do que no reino da Dinamarca? Não sei. Não consigo saber por meio da imprensa.

O que eu queria ver era alguém entrevistar o "mercado". Nunca vi. Não sei quem é o "mercado", esse ser tão sensível, tão nervoso, tão mimado, que tem de ser acalmado e agradado a toda hora. Deve ser primo do HAL, do 2001-Uma Odisséia no Espaço, porque parece que não é humano.

4 comentários:

Lucila disse...

Que honra postar o primeiro comentário no seu blog! Adorei a idéia, estarei sempre por aqui. Na tevê e nos jornais da Inglaterra, o Credit Crunch tem letra maiúscula, virou nome de gente. Não se fala em outra coisa e não se explica coisa nenhuma.
Muitos beijos, muitas saudades, Lucila

Dal Marcondes disse...

Finalmente você na blogsfera. Quero ler mais coisas, muitas coisas.
Dal

a escriba disse...

Amiga comentarista
Que coisa boa poder se informar dessa loucura que acomete as finanças globais lendo seu blog. É tudo do que eu mais precisava pra me sentir tão burrinha com tantas interrogações sem resposta. Vc é o máximo, darling. Please, continue nos nutrindo com suas ricas indagações. Parabéns pelo blog, darling.

a escriba disse...

A escriba ou DENISE RIBEIRO.
Só pra esclarecer, Fatiminha
bj