sábado, 25 de outubro de 2008

Are you kidding, mister Meirelles?


Saiu hoje na Folha de S. Paulo uma matéria (aqui, no UOL) com a seguinte declaração do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, sobre a atual crise financeira mundial: "Não há dúvidas sobre ela [a crise econômica global]. Paremos de fazer piadas a respeito. É uma situação muito, muito séria".

Opa, pênalti! Os piadistas somos nós?

A mim, parece brincadeira que alguém hipoteque sua casa para gastar esse dinheiro em jipes beberrões de gasolina ou comprando alucinadamente nos shoppping centers, como fizeram os americanos. Isso em um país que, apesar de ter apenas 5% da população mundial, abocanha 25% da energia consumida no planeta. E que tem um padrão de consumo que usa quatro vezes mais recursos naturais do que a Terra consegue repor.

É uma gracinha também outro dado citado na matéria da Folha: o dinheiro que circulou no mercado financeiro em 2006 era 200% superior ao PIB mundial. Uma quantidade de papel duas vezes superior às riquezas produzidas. Como eu disse em outro post ali embaixo, brincavam de Banco Imobiliário, comprando e vendendo casinhas com dinheiro inexistente. Acho que isso pertence à categoria de ficção humorística.

Quando a brincadeira acaba, esses que lucraram bilhões com a ciranda-cirandinha financeira não podem sofrer, pois é o dinheiro deles que garante que a roda financeira continue girando. Assim, trilhões saem debaixo dos colchões dos bancos centrais dos países ricos (e de alguns emergentes) para assegurar que eles não fiquem nervosos, que fiquem bem calminhos para voltar a brincar de roda. É melhor não fazer contas para calcular o que esse dinheiro representaria na melhora de qualidade de vida -- ou simplesmente possibilitando a sobrevivência -- de milhões de habitantes dos países pobres. E não estamos falando em doação, estamos falando em investimentos em infra-estrutura, recuperação de áreas agrícolas degradadas, criação de mercados locais... Melhor não fazer essas contas, ou começaremos a chorar de rir.

Instalada a crise, em vez de os investidores fugirem de seu epicentro, é pra lá que correm. Como já não sabem mais onde botar o dinheiro em lugares que garantam lucro fácil e rápido, porque agora tudo é incerteza, compram títulos do Tesouro americano. Por quê? Por que os Estados Unidos não vão quebrar. Por que não vão? Porque o próprio mercado não deixa. Ah, tá. É como aquele moleque chato, que azucrina a família inteira no almoço de domingo, chuta a canela dos adultos, bate nas crianças, faz escândalo e joga o prato no chão, come toda a sobremesa e não leva nenhuma reprimenda. Um mimado, um intocável que grita o tempo todo "eu quero, eu quero, eu quero" e todos lhe satisfazem os caprichos. Que fofo...

E os piadistas somos nós? Ora, doutor Meirelles, não me faça rir.

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