terça-feira, 28 de outubro de 2008

A Folha contou!


Folha de S. Paulo publicou hoje (28 de outubro) que os bancos estão comprando títulos públicos com o dinheiro extra liberado pelo governo para garantir a oferta de crédito. Na verdade, estão fazendo o que sempre fizeram.

Dizem os economistas que o mercado brasileiro tem pouca oferta de crédito. Isso porque os juros dos títulos públicos são muito altos, o que faz com que os bancos dirijam grande parte de seus recursos para eles. Isso faz com que o dinheiro disponível para os outros setores fique escasso, portanto mais caro, portanto com juros bastante altos — quem entra no cheque especial ou não paga a fatura total do cartão de crédito sabe bem disso.

E por que os juros dos títulos públicos são tão altos? Porque a dívida pública brasileira é enorme, e o governo precisa desses recursos privados para se financiar. Daí, não adianta reclamar, a cada divulgação de balanço, dos lucros bilionários dos bancos. Enquanto a dívida pública brasileira for gigantesca, e o governo precisar se financiar oferecendo títulos da dívida pública a juros tão altos, os bancos farão a festa. Operações de varejo — ou seja, o meu, o seu, o nosso rico dinheirinho —, para eles é troco.

Estranho é um jornal de grande circulação, como a Folha, “entregar” os bancos dessa maneira. O governo reduziu, por exemplo, o depósito compulsório, à espera que os bancos usassem esse dinheiro para conceder crédito, mas os bancos simplesmente foram garantir seus já polpudos lucros numa operação tremendamente segura — emprestar para o governo.

Não, ninguém quer que os bancos quebrem, até porque é lá que guardamos nosso rico (e pouco, mas honesto) dinheirinho. Mas, a imprensa normalmente é conivente com comportamentos assim, ou com ações especulativas, e não dá nomes aos bois. Na época da eleição de 2002, por exemplo, quando Lula começou a subir nas pesquisas, o “mercado” fez uma verdadeira chantagem com o país, levando o dólar a níveis estratosféricos sem a menor razão técnica para isso. Ninguém dizia quem comprava tantos dólares. Eu é que não fui, garanto.

Seria porque os mesmos que realizam essas operações, escondidos atrás do “mercado”, são as fontes dos jornalistas de Economia? Não sei. Mas, dá pra desconfiar.


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