quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Welcome back


Por mais que são-paulinos, palmeirenses, santistas etc gostem de futebol, de fato nada é parecido com um corintiano. Não os das torcidas organizadas, pois esses me parecem ter mais paixão pelo grupo a que pertencem, por si mesmos, ou pela vaidade de pertencer a esses grupos, do que pelo time. 

Estou falando daquele povo que lotou o Pacaembu no sábado, 25 de outubro, para ver o Corinthians subir à Série A do Campeonato Brasileiro. Eu nem achei algo assim tão emocionante, o time não fez mais do que a obrigação. Emocionante mesmo, para mim, foi a volta do Palmeiras, uns cinco ou seis anos atrás (não lembro exatamente quando, esses detalhes apenas os cérebros masculinos conseguem armazenar). Naquela época, times grandes não caíam, pois sempre havia alguma armação para salvá-los do rebaixamento. Quando caíam, inventava-se alguma manobra de tapetão -- como criar um campeonato com clubes convidados ou classificar o campeão da segundona para a final, caso do São Paulo no campeonato paulista de 1990 (acho que foi nesse ano).

O Palmeiras jogou a segundona, classificou-se e voltou à primeira divisão. No jogo final, vários jogadores deram entrevistas, às lágrimas, valorizando o fato de terem conseguido voltar no campo, não no tapetão. Pareciam ter saído de uma travessia pelo deserto, onde purgaram os pecados, sofreram, mas o fizeram com honra, ética, dignidade, conquistando o direito de pertencer à elite do futebol no mérito, não na falta de escrúpulos. Sim, foi bonito.

Agora, jogar a segundona e voltar é normal. Já não tem a carga simbólica de abrir mão de privilégios e cumprir a lei, como deve acontecer nas democracias. É, portanto, uma viagem solitária, do time com sua torcida, percorrendo seu deserto particular, indo aos seus porões, resgatando nessa dor sua essência.

Para estes olhos são-paulinos, que escolheram torcer para esse time por causa do Telê e de sua compulsão pela beleza do jogo, isso é quase incompreensível. Para o corintiano, como aqueles flagrados pelas câmeras no Pacaembu encharcados em lágrimas de alívio, o futebol não é um espetáculo que dá graça à vida -- é a própria vida. 

Se o São Paulo perder, fico no máximo com raiva do time, do resultado, fico chateada e olhe lá. Para o corintiano, parece que o mundo fica cinza. É uma forma de viver e sentir o futebol que me escapa. 

Não sei se isso é uma bênção, ou se é maldição. Não sei se desprezo, ou se fico com inveja. Não sei se agradeço aos céus por não sentir o futebol dessa maneira, ou se tenho pena de mim por não ser capaz disso.

Nem mesmo compreendo o que seja isso. E não basta ir a um estádio e misturar-se à torcida para tentar entender. Seria preciso ver o futebol com os olhos de um corintiano.

Seria preciso. Seria possível?


Um comentário:

Luciano Martins-Costa disse...
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